Velho armário

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     Socorro, eu não sei se entre vocês há um especialista nessas coisas, eu espero de todo coração que sim. Desculpem-me se houver alguma confusão ou erro no que eu escrever a seguir, estou trancada dentro de meu velho armário, foi até sorte eu tê-lo ganhado, por ser de um material bem forte, algo parecido com ferro... minhas lágrimas estão cobrindo meus olhos, mal posso ver o que digito nesse pequeno computador. Tentarei ser breve, a bateria está acabando e esse barulho o atrairá...

     Não sei bem por onde começar, acho que pelo o que aconteceu ontem a noite. Meu marido e eu deixamos nosso filho de seis anos na cama, como todas as noites desde que ele nasceu, às vezes eu lia um livro até ele adormecer, mas ontem, eu estava cansada e queria logo dormir.

- Boa noite, querido, durma bem.
- Você também, mamãe, te amo.
- Eu também te amo

     Nos despedimos e fui para meu quarto dormir, não conversei com meu marido enquanto deitamos na cama, ambos adormecemos muito rápido.
Acordei com um grito vindo do quarto do meu filho, um grito tão agudo que chegou a me dar dor de cabeça numa fração de segundos! Fui correndo até o seu quartinho e a porta estava trancada, era o que parecia, mas a porta não continha nenhuma tranca. Joguei-me contra a porta, berrando o nome de meu filho repetidamente, aquele grito não cessava, meu marido estava ao meu lado instantes depois, me ajudando com a porta. Então o grito cessou repentinamente e a porta se abriu lentamente, como se nunca estivesse trancada, o suor brotou de minha testa quando entrei correndo e encontrei meu filho sentado, olhando diretamente para frente, como se não pudesse ver mais nada ao seu redor, parecia hipnotizado. Falei com ele, várias vezes, sem ter resposta e foi quando toquei o seu rosto, que ele pareceu acordar de um sonho.

- Querido? O que aconteceu? Você está bem? - Perguntei, enquanto meu marido olhava na janela e cada canto do quarto procurando alguma coisa ou alguém que poderia ter provocado aquilo tudo.
- Foi um pesadelo? Joe, você pode me escutar? O que aconteceu? Você quase nos matou de susto. 
- Foi apenas um pesadelo, mamãe. - Disse ele encarando-me nos olhos. Sua serenidade era assustadora.
- Não achei nada, querida. - Falou meu marido.

     Então voltamos para o quarto, pra tentar dormir novamente, surpreendentemente, consegui. Nunca tive uma noite tão serena.
7:00 da manhã, o relógio marcava e o despertador tocou. Apertei o botão que o desligava e me levantei, cruzei a cama para acordar meu marido, que tinha um sono muito pesado, acordava-o com um beijo na testa todas as manhãs, no entanto, quando cruzei a cama, notei manchas escuras no lençol. Incomum...
     Corri para a parede e acendi a luz. Quero que entendam... Isso realmente aconteceu, por favor, não pense nem por um segundo que estou mentindo, que sou louca, pois eu não sou! Olhei para o corpo de meu marido, seu rosto estava virado diretamente para mim, sem os olhos e com a língua arrancada, o sangue descia de sua boca/buracos que antes estavam os olhos verdes e pingava no chão. Por toda extensão de seu corpo, haviam marcas de facadas e alguns membros estavam quase se soltando.
Algo se mexeu ao lado dele e pude ver que era um menino coberto de sangue... o meu menino!
Aquela criança que eu tanto amava.

- Bom dia, mamãe. - Disse ele em uma voz sobrenatural, que parecia um misto de voz de criança, com a de um monstro, daqueles que você vê na TV. Olhei em seus olhos, que antes eram verdes, olhos do pai, agora estavam completamente brancos, como se tivessem virados para trás. O grito ficou preso em minha garganta. Ele levantou a pequena faca de cozinha, que se encontrava em suas mãos, toda suja de sangue, inclinou um pouco a cabeça e disse:
- Sua vez, mamãe. - E começou a correr em minha direção, usei toda minha adrenalina pra mover minhas pernas, corri até a cozinha, onde ele me encurralou, era pequeno, mas era bem ágil.
     Ele tacou aquela faca em mim! Pode acreditar? Aquela coisa, aquele demônio que possuía meu filho, queria me matar! Me desviei agilmente, ainda cheia de adrenalina peguei a faca caída e joguei de volta com toda minha força. Ela se enfiou na cabeça de meu filho até o cabo, não posso acreditar... eu tentei matar meu filho! Depois corri para esse lugar, esse armário, nenhum celular aqui, apenas esse pequeno notebook...
     Peço que as respostas sejam breves, estou ouvindo os seus passinhos subindo a escada nesse momento. Por favor, me ajudem! O que faço agora? Ai meu Deus, por favor, ele acaba de abrir a porta do quarto.

Uma voz abafada se ouve:

- Mamãe, sei onde você está e não adianta se esconder de mim, nesse velho armário, você é a próxima...
-  Se escondendo de mim? Você me disse que isso é feio, lembra? Agora vou te castigar por isso.

Um barulho estarrecedor de ferro se contorcendo preenche o quarto.




Conto original A Morte, escrito por nossa adm Cíntia Parma (Hunter)
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