Bebedores
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Ele estava vagando à noite, como sempre fazia, era uma criatura bem diferente das outras, apreciava escolher suas vítimas ao invés de apenas pegar qualquer um que aparecesse pela frente. Sim, ele tinha um bom gosto e sabia disso. Preferia os humanos jovens e distraídos, aqueles sonhadores, para quando sugar todo o seu sangue possa sentir todos os seus sonhos se esvaírem como fumaça ao vento, nenhum plano seria executado. Ele sorriu friamente quando se lembrava dessa sensação, nada podia ser melhor...
Parou em frente a uma casa, captando os pensamentos de um jovem rapaz, o barulho das teclas de seu computador era tão alto quanto sua respiração: tec tec tec tec. Era um ser humano criativo aquele. Do tipo que ele apreciava muito. Ficou em frente à casa e ordenou silenciosamente: "Abra". E a porta se destrancou, ele era matéria, matéria morta, por isso não podia simplesmente atravessar as paredes como todos os outros seres do escuro, mas não ligava muito pra isso, era um bebedor velho, há 753 anos perambulava à noite em busca de sua vítima. Achava um absurdo esses novos filmes de sua espécie, não era engraçado, aquilo o ridicularizava, a verdade era muito pior e ele era a prova disso.
Não era capaz de sentir culpa alguma, nenhum sentimento, mas possuía caprichos. Gostava de brincar com sua presa antes de finalmente sentir sua vida dentro de sua boca. Ah como era gostoso, aquele néctar o completava de energia quase inteiramente, mas a sede nunca ia embora, era escravo dela, como todos os outros bebedores, por isso poucos sobreviviam, poucos aguentavam.
Agora se encontrava na sala confortável daquela casa, andava silenciosamente, o carpete ajudando a diminuir o som das passadas, não produzia ruído algum, não tinha necessidade de respirar, sua natureza morta permitia que ele fosse o mais silencioso dos seres que andam pela Terra. Entrou no quarto daquele jovem, que estava de costas para porta, um erro comum que quase todos eles cometiam, se sentiam muito seguros nessa nova era ateia, em que a maioria das pessoas não acredita em mais nada, não acreditava nem mesmo nos bebedores... Mas deveriam.
Se espremeu em um canto escuro e soltou um riso baixo, um riso que saía diretamente de sua mente, a única parte viva de seu corpo, era um poderoso telepata. Mesmo com fones de ouvido, o garoto parou de digitar escutando aquele som baixo em sua cabeça, olhou ao redor, seus olhos acostumados com a claridade do computador, não notaram o predador em seu próprio quarto. Oh Deus, como ele achava aquilo hilariante! Voltou a digitar no computador, e ele ficou bem atrás, lendo cada palavra sem significado. Encheu os pulmões de ar, aquela ação era estranha pra quem não os usava com muita frequência, abaixou um pouco e respirou perto da nuca do jovem. Ele gelou e virou lentamente o pescoço para ver quem estava atrás dele, seus olhos se encontraram e até o bebedor sentiu sua tensão e se deliciava com aquilo. O jovem se levantou da cadeira, como se uma onda de adrenalina o enchesse de coragem ou esperança, talvez os dois, de repente e saiu correndo, o imortal o perseguiu e tão rápido que não daria pra perceber o trajeto que havia feito, já estava na frente do humano em menos de um segundo! Não tinha pra onde correr.
- Por favor, não me mate! Não me mate!
Os sonhos invadiram a mente do garoto e o bebedor os ouviu, todos sobre coisas que ele podia ter feito, mas jamais faria. As risadas aumentaram. O rapaz tentou correr novamente, mas o vampiro o alcançou, isso que era um vampiro, como nenhum humano sonhara, muito mais forte e preciso do que aqueles que apareciam em livros ou filmes. Decidiu que seria rápido dessa vez, então abriu sua boca e mordeu fortemente o pescoço de sua presa, perfurando tão facilmente como se a pele fosse algodão, o sangue jorrando sem esforço de sua artéria grossa. Em minutos, um cadáver seco jazia em uma sala de estar. Ninguém sabia o que havia acontecido.
E você, caro leitor, já olhou para trás?
Conto original A Morte, escrito por nossa adm Cíntia Parma (Hunter)
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