A outra face
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Foto por: Cristina Otero
Cheguei na casa dela e fiquei parado em frente a porta, será que estava muito cedo?
Olhei o grande relógio prateado e caro, cujo havia ganhado dos meus pais no meu aniversário de quinze anos, nele mostravam nada menos que cinco horas da manhã. Olhei pra trás esperando um sinal de vida do Sol, o que eu estava fazendo? Mas não podia recuar agora, aquela mensagem de texto ainda estava na minha cabeça. "Ela não é o que você pensa, vá na casa dela antes do sol nascer, ela não é o que pensa, ela vai te matar..."
Olhei novamente o relógio e dei um passo pra frente, sem tocar a campainha, toquei na grande maçaneta de bronze iluminada pelos postes de luz e a rodei pro lado direito bem devagar. A porta fez um som suave, o que me fez arrepender novamente de confiar em uma mensagem de número confidencial. Mas eu precisava saber...
Entrei na grande casa e fechei a porta atrás de mim, eu havia colocado os meus tênis mais macios, para que não fizesse muito barulho ao dar passos na madeira escura, material que eu sabia que cobria o chão da casa dela, e deu completamente certo. Estava distraído procurando opções, em que corredor entrar, até que ouvi ruídos vindos do terceiro corredor, que, felizmente, só havia uma porta. Era um barulho baixo, abafado, parecia uma serrinha ou algum instrumento que dentistas usam. Fui seguindo o barulho até ficar na frente da única entrada, parecia ser de um quarto, estava alarmado quando de repente a madeira rangeu sob meus pés.
Congelei no lugar que eu estava, será que a pessoa dentro do quarto me ouviu?
Mas o barulho da serrinha ainda estava presente naquele aposento. Repeti a ação de colocar a mão na maçaneta, que, por sinal, estava completamente gelada. Girei-a com um movimento bem lento e consegui abrir um espaço. O grito ficou preso na minha garganta, parecia que estava diante de uma cena de filmes de terror e não consegui segurar a porta, que imediatamente se abriu toda sozinha.
O quarto estava coberto por plástico e iluminado por uma única luz fraca no teto, no centro havia uma enorme maca com um homem preso com várias tiras de couro ao longo do corpo, coberto de uma substância vermelha, que eu sabia ser sangue, ao lado de uma pequena mulher vestida de cirurgiã. Aquela menina de longos cabelos castanhos, conhecida por sua personalidade calma, por seu olhar ingênuo e inocente, como uma criança que nunca cresceu... No entanto, agora segurava um instrumento e cortava os dedos daquele indivíduo adulto e preso, impedido de gritar por causa de sua boca costurada com linhas negras. Ele me lançou um olhar de rato encurralado e, percebendo aquilo, a menina que agora eu desconhecia completamente, se virou para mim.
Apontando para um celular em cima da mesinha com os instrumentos, disse:
- Que bom! O próximo paciente já chegou.
Conto original A Morte, escrito por nossa adm Cíntia Parma (Hunter)
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